ROÇA MONTE BELO Era uma Roça onde se cultivava o café que creio era a maior pertencente á CADA e diziam dela ser a maior produtora do mundo comparando-a geograficamente. Era lindo o ambiente dos cafezais que eram plantas muito verdes pouco superiores á estatura de um homem alto e quando davam e cresciam as suas bagas de café, pareciam rosários enormes porque as bagas nasciam e cresciam coladas aos troncos dos ramos das plantas dando uma beleza singela mas diferente ou talvez por isso, singela. Mas depois vinha a fase do amadurecimento em que as bagas começavam a tornar-se vermelhas e quando atingiam o auge desta cor, então imaginem porque eu não sou capaz de explicar tanta beleza!!! Era uma mistura de verde, de troncos acastanhados com as suas lágrimas pendentes vermelhas de sangue como um céu cheio de estrelas. Tinha fábrica própria de descasque, escolha já semiautomática do tamanho dos grãos e separação de impurezas, torrefacção e dali já o café saia pronto a ser usado ou depois lotado ao sabor dos gostos de quem o comercializava. Éramos uma família com preferências mais por um ou por outro, e lembro com saudade um grande amigo, Encarregado da Fábrica, o Fernando da Costa Reis, com quem tinha uma amizade muito cimentada. Ele era um solteirão ( talvez ainda mão) e sentia-se bem na minha família e hoje tenho pena de não conseguir saber o seu paradeiro. Em casa de seu Pai, Encarregado de uma outra Roça, todas as semanas numa mesa comprida posta numa sala ampla dum primeiro andar duma casa de construção colonial, se reunia toda ou quase toda a família que era numerosa que o Pai como bom creio que beirão e pessoa de bom trato tinha com a sua companheira angolana, numerosa família, o snr Costa Reis, mas onde qualquer amigo com qualquer número de outros amigos tinham sempre naquela mesa, lugar e a comida que era sempre tão farta que pensei se não haveria ali no meio de todos sempre algum Cristo a fazer a multiplicação da comida e bebida. Era a Mãe do Fernando! Do Fernando soube que casou e se manteve por lá. Por lá embora a última notícia que me deram não fosse a mais agradável mas deixo-a como não verdadeira. Ali exerci com gosto uma Enfermagem sem médico, ali criei alguns meses a minha Fátima, ali estudei maneiras de passar o tempo aproveitando-o e uma delas foi revelar as minhas próprias fotografias com luz de bateria e numa câmara escura improvisada em casa. A fruta e hortaliças eram - nos oferecidas desde que houvesse na horta da Roça bem como uns quantos quilos de café em grão a que tínhamos direito mensalmente que nem chegávamos a consumir. A casa era igualmente cedida gratuitamente pela CADA. Então bananas, ananases, mangas e outras não faltavam em casa sendo as galinhas as maiores consumidoras do excesso. Em contra partida também se entregavam em troca para nos deliciarem com churrascos que comparados com os de hoje vindo de aviário são como o sair de uma noite escura par uma bela noite de luar. Guardo daquela Roça a tranquilidade que nela se gozava, o mar de bagos de café estendidos ao sol no terreiro para secar e curar constantemente removidos com rodos de madeira para que o tratamento surtisse por igual. O sol era forte mas as chuvas ali eram mais frequentes e acompanhadas por trovoadas que metiam algum receio. O João era o meu Ajudante em Enfermagem de quem ainda hoje conservo 2 livros daquela Especialidade que lhe comprei. Bom rapaz, trabalhador embora adoptasse um ar servil que eu tentei melhorar-lhe. Era gorducho e um pouco acanhado mas tivemos uma relação muito boa. Era o inicio do ano 61 e quando tudo parecia correr tranquilo, num certo dia e de imediato avisados pela própria Companhia para termos cuidados redobrados, soubemos da terrível matança de pretos e brancos, adultos e crianças que num ataque suicida foram terrivelmente flagelados, esquartejados e eliminados pelas terríveis ordas de sanguinários a mando de um traidor estrangeirado cujo nome me repugna escrever aqui. Foi o começo da derrocada. A seguir foram tempos de insegurança, de instabilidade e por que não, de medo. O horror fazia sair das nossas mentes gestos ou atitudes de defesa ao ruído mais estranho levando alguns menos tranquilos a cometer excessos. Nunca poderei esquecer essas horas e os tempos seguintes… Veio a seu tempo a tão desejada e nunca rejeitada por nós, Independência, mas porque tão mal conseguida e tão apressada deu os frutos que deu de trinta anos de guerra, sangue, desespero e miséria. Hoje parece em melhor caminho. Oxalá 2007 De- Augusto Rebola "Crónicas da CADA" Esta foi a 9 ª Edição. NGA SAKIRILA KINENE!! MBOIM !! :) AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
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